*Texto que papai escreveu há 8 anos.
Nasci em 1955. Portanto, tenho 55 anos. Tive infância inesquecível, sob todos os aspectos. Sou americano por generosidade paterna. Cabulei aula, escondi boletim. Fiz primário, ginásio e científico. Nunca tomei bomba, nem sou brilhante em nada. Com oito anos, descobri que a linguagem dos adultos era enigmática. Eles dizem o que não querem, ou o que se deve subentender. Desprezam o raciocínio linear. Têm medo da franqueza. Para o beleléu com a minha inocência. O que você vê, não é o que você enxerga. Me apaixonei pela professora Leniza Seabra, no Grupo Escolar Barão do Rio Branco, em BH. Ainda guardo resquícios desse doce e freudiano amor. Folheei a Barsa, Delta Larousse, Zéfiro e gibis. Fui camisa 15 na seleção mineira infanto-juvenil de basquete. Joguei pelo América e depois no Mackenzie. Meu primeiro emprego formal, aos 18 anos, foi como almoxarife na Magnesita, em Contagem. Matrícula 12.295, gravada na marmita. Mais do que ganhar o primeiro salário com esforço próprio, conquistei falsa liberdade. Acendi o primeiro cigarro, tomei a primeira cerveja, comprei os primeiros livros e discos; Namorei, fui namorado. Homem tem que ter passado. O canivete suíço é obrigatório. Atraído pelas gemas, mais pelo martelo de geólogo, pois adoro boas ferramentas, tentei o vestibular de engenharia de minas. Nada feito! Alguém me disse que escrevia bem para as adolescentes no jogo da sedução, quando pululava em acne. Que tal tentar o jornalismo? Bom, me embrenhei nessa área; Nela estou desde 1979, quando me formei pela PUC-MG. Trabalhei em bons jornais, como Folha e O Globo. Gosto da nova fase do Estadão. Há 13 anos sou colunista do Hoje em Dia, desfrutando de espaço privilegiado, almejado por qualquer profissional da imprensa. Embora viva do que escreva, prefiro ler. É mais difícil. Tenham certeza. Abrir mão de sua vivência para entrar no universo do desconhecido, convenhamos, é um puta exercício de disciplina, altruísmo, despojamento, solidariedade e, o mais importante, disposição de aprendizado. Ainda mais com um zumbido intermitente. Escrever é pôr o burro na trilha. Ele segue sozinho, quando nela se encontra. Tem lá suas técnicas, todas acessíveis. Nisso, concordou Marina Colasanti, numa troca de idéias sobre escrita e leitura. Embora trabalhe em um jornal, deprecio a notícia. Em compensação, adoro a informação. Ganhei amigos e respeitabilidade na profissão. Esse o meu patrimônio. Estive ao lado de Hélio Garcia, por quem nutro paixão inconfessável, por alguns anos. Ainda sonho com sua figura carismática. Desfrutei da intimidade de uma grande personalidade mineira. Fui condecorado com todas as medalhas institucionais do Estado. O que muito me orgulha, mas a Caixa Econômica recusa-se a aceita-las no “prego”. Não atravesso a rua por causa de ninguém. Prefiro servir a ser servido. Sempre briguei por Minas Gerais. Causa insana. O estado mediterrâneo vale a pena, já sua gente… Vejo no futuro esquiar na sola do pé, já que faço slalon invejável; aprender o mandarim; tocar um instrumento; estudar geografia, influenciado pelo baiano Milton Santos; divagar no bico de pena; entender sobre cerâmica vitrificada; terminar um livro, cuja edição será de 100 exemplares; manter o sangue e a próstata em ordem com o Vinícius, Cláudia e Wadson; fazer o pilates com a Bárbara e a Bia, cuidar dos dentes com o Ivanildo e o Paulo. Conversar fiado com meus irmãos e um montão de pessoas queridas. Reverenciar meus filhos e família. Hoje, metódico, chato, indisciplinado, com licença poética conquistada falar palavrões sem me policiar. Não me esqueço do “bom dia” nem do “muito obrigado”, pois como diz Dona Alice (mamãe), isso vem do berço. A isso, sim, chama-se hoje ser de esquerda. Tudo o mais é bobajada!
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Marcio uma pessoa de se admirar…